2:32 AM
Paro tudo e escrevo. Sobre o frio da madrugada.
É meu último dia antes das férias.
Não sei se volto pra esse trabalho.
Tantas dúvidas pairam e me assolam no silêncio. As mesmas que se mantêm quietas durante o dia e chegam agora, sussurantes, pra atormentar.
Sob o frio da madrugada.
Penso sobre a vida.....ora veja, até eu mesmo o faço de vez em quando.
(Ei, pensar demais trapalha, viu?)
Eu sei...não é preciso dizer. Já pensei muito em como pensar menos. E pensei tanto que não pensei em nada.
Imprensado entre tudo o que queria ser e tudo o que realmente sou
me (des)equilibro.
E até desejo o que não gosto.
Pois talvez assim levassem embora
o frio da madrugada.
sexta-feira, agosto 17, 2001
segunda-feira, agosto 13, 2001
Nem sempre se pode ser Deus
Aqui estou eu outra vez. Tentando achar algo pra dizer.
Algo que seja inteligente, charmoso, cativante. Você sabe. Cheio de fina ironia e humor inteligente. Genial.
Te levar pra jantar fora. Pedir o mais caro vinho da casa. Ou melhor, pedir champanhe.
Pode deixar a garrafa na mesa, garçom.
Pedir pratos em francês. Abrir o champanhe sem deixar que a rolha emita um ruído sequer. Eu sou um clichê do charme masculino, um misto de Richard Gere, Antônio Fagundes e José Mayer. Você não pode resistir à minha conversa inteligente. Ao meu leve sorriso, aos meus gestos estudados. Eu sou um protagonista daqueles romances tipo Sabrina e Bianca. Eu sou rico, durão, misterioso mais ainda sim sensível e amoroso.
Vou te levar pro meu apartamento de cobertura, decorado com o mais profundo bom-gosto e requinte. Colocar um disco (vinil, obviamente) de jazz na vitrola. Em baixo volume. Te servir um whiskinho. Tirar lentamente a sua roupa e fazer amor na minha cama de casal feita sob encomenda até o amanhecer, quando dormiremos abraçados durante o dia inteiro, pois eu sou rico o suficiente para não ter que trabalhar.
É isso que você quer, não?
Eu poderia te dizer tudo isso. Poderia te prometer tudo isso. Poderia SER tudo isso.
(Seria falso, eu sei, mas nesta vida o que não é?)
Mas quando eu te encontrar novamente, não farei nada além de gaguejar.
Nem sempre se pode ser Deus.
Por isso que estou gritando.
Por isso que estou gritando.
Por isso que estou gritando.
terça-feira, agosto 07, 2001
De outono
Outono no Rio. Eu vou pro trabalho, margeando a Enseada de Botafogo. Dia de sol, belíssimo. Sigo pelo Aterro. A leve brisa entra pela janela e não se deixa sentir o calor do sol. Pessoas andam de bicicleta e jogam bola. Descanso vendo as árvores de poucas folhas avermelhadas.
Me sinto com sorte. Quantas pessoas no mundo podem desfrutar dessa vista no caminho para o trabalho? Sim, o Metrô é mais rápido e confortável. Mas, mesmo arriscando perder o horário e viajando de pé, vale muito mais ir de ônibus, admirando a vista.
Funcionários cortam a grama do Aterro, soltando no ar o perfume das tardes de férias de verão em Cabo Frio. Faz tantos anos....tantas saudades.... tantas sensações, tanta despreocupação e sonhos que agora parecem distantes. O futebol, a brincadeira de pipa, a pesca. As tardes preguiçosas na rede da varanda, embalada pela brisa ininterrupta. Presenças e momentos que hoje só voltam assim, num flash. Dentro de um ônibus. Indo pro trabalho estafante.
Não sei quem falou que o Rio é maravilhoso no verão. Não é. Se o Rio é realmente maravilhoso, em alguma ocasião, em algum local, é aqui, no Aterro, deixando o Pão de Açúcar para trás, com o cheiro de grama cortada perfumando o ar.
O verão é o sexo selvagem, direto, suado, sem sedução. A putaria. O tesão. É roupas rasgadas espalhadas pelo quarto, hormônios em ebulição. O desejo cego. A Paixão avassaladora, que devasta e cansa. Que inebria e logo acaba.
O outono é a leve sedução, a elegância, o charme, o mistério, a incerteza que provoca, a troca de olhares e sorrisos sorrateiros, uma carícia, o conforto de um abraço na pessoa que se gosta, o sexo carinhoso, a sensação que te assalta devagar e em silêncio até você estar completamente dominado. E que nunca se esquece. Por mais que se tente.
O outono é eterno.
Eu sou de outono. É o meu jeito. Não sou de verão. Agora eu sei. Todos esses anos me sentindo deslocado "na época da curtição" encontraram finalmente explicação. Não importa o que dizem as músicas ou o que falam os outros. Eu sou de outono. É o meu jeito. É quando eu me sinto bem e confortável. É quando as coisas fazem mais sentido.
Ao menos pra mim.
segunda-feira, agosto 06, 2001
Como um péssimo episódio de Seinfeld...
Hoje eu finalmente descobri porque não gosto de você. Eu sempre tentei entender seus silêncios. Seus olhares que dizem tanto mas que não consigo decifrar. A sua ausência de sorrisos. Mas hoje eu descobri. Eu sei o que nos levou um ao outro.
Você é eu.
E agora, sabendo disso, eu vejo que os seus silêncios são os meus. Seus (poucos) sorrisos são os (poucos) meus. Você é estranha, assim como sou. Acabou o mistério. Você é eu. E eu não gosto de mim. Não pode haver mais nada entre nós. Eu não tenho como conviver com alguém como eu. Não quero ver em outra pessoa o que não quero lembrar sobre mim. Odeio espelhos.
Eu quero alguém feliz. E falante. E que guarde a alegria de viver que já não tenho. E preciso.
Pois eu conheço meus problemas, medos e tristezas.
E eles são seus também.
Adeus.
Desculpe. Eu sei como você se sente.
É exatamente como eu me sinto.
Eu sou você, lembra?
quarta-feira, agosto 01, 2001
Natureza morta
Eu só queria te dizer que acredito na poesia
que carrega os seus mais simples gestos.
Cheios de sedução involuntária
e que eu sorvo em silêncio
pra você não perceber
que eu acredito na poesia.
Hoje me vi e me aceitei.
Eu acredito em coisas mortas
que talvez só existam no meu pensamento.
Não quero mais ser como os outros são.
Pois ainda creio no que não existe
e na beleza de pequenos detalhes.
Um dia, eu sei, a vida vai levar embora
toda a crença que eu carrego.
Serei amargo.
Mas não hoje.
Porque eu ainda acredito.
É da minha natureza.