quinta-feira, outubro 14, 2004

Flores no concreto


Mangueira,
teu cenário é uma tristeza
que a pobreza escarrou.

Mangueira,
és o retrato da agonia,
és a espera que enfastia,
és o espelho que me restou.

Benfica, onze e trinta,
cada passo é um tormento.
As rosas não falam, pois não florescem
no Saara de cimento.

Mangueira,
és a eterna despedida
do que já fomos um dia,
és o jovem que se entregou.

Benfica, sete e trinta,
grito em silêncio no deserto.
Tão cansado, ainda busco
por flores no concreto.

Mangueira,
teu cenário é a certeza
de um sonho que se calou.