Aos pedaços
Eu já percebera há muito tempo atrás. Mas mesmo assim continuo. É inevitável. Não tenho mais opção.
Mais uma noite. Outro dia que nasce antes de eu dormir. Mas que eu não vejo. Não enxergo nada.
Em cada mesa de bar em que eu já estive, em cada porre, em cada cerveja, em cada gole eu deixei um pouco de mim. Um pedaço dos meus sonhos e expectativas.
É tudo uma tentativa vã.
De esquecer que os dias passam e que, por mais que eu me esforce, continuam seguindo o mesmo caminho.
Tudo é descartável e sem sentido. E solitário.
Nem mesmo os bares me ajudam mais.
Eu apenas gostaria de mais momentos memoráveis.
De me sentir um pouco mais completo.
Eu adoraria dizer que é o fim, que é uma mudança, um rompimento....
mas é só mais uma noite.
Vou sair de casa apenas pra passar o tempo. Pra não ver que envelheço e perco o brilho.
Pra perder um pouco mais a vaidade e o respeito por mim mesmo.
Que se foda.
Eu sempre via pessoas amarguradas e tristes, largadas em bares e pensava:
"Nunca serei assim."
Mas nada mais que isso, me tornei.
É só mais uma noite.
De um ano qualquer, de um mês qualquer.
Toda noite é igual e torturantemente lenta
quando se está sozinho.
sábado, dezembro 29, 2001
terça-feira, dezembro 25, 2001
Vida besta
- Oi.
- Quem é?
- Você sabe quem. Quem mais te ligaria? Quer dizer, quem mais te ligaria hoje? Quem mais te ligaria achando que não precisava dizer nada além de “oi”.
- Ah, claro. Você. Oi, tudo bem? Hehehe, muita gente me liga, o tempo todo. Eu não tenho como saber quem é.
- Pensei que você saberia. Se você me ligasse e dissesse apenas “oi”, eu saberia que era você, sabe?
- Isso é porque você não tem vida social, não tem amigos, não tem nada. Você não pode exigir que eu seja tão derrotada quanto você. Eu não sou. O meu mundo não gira ao seu redor.
- Não é isso. É só uma questão de importância.
- Importância ou insanidade?
- É, se você me ligasse, pensando melhor, eu não saberia dizer quem é.
- Por que você conhece muita gente?
- Não, porque eu não conheço ninguém. Inclusive você.
sábado, dezembro 15, 2001
Dia 15
Som ligado, tv ligada.
Confusão de sons.
Nada que se possa ser escutado, nada que mereça ser ouvido.
Quarto quente, ventilador ligado.
Chove tanto hoje no Rio.
Aqui neste cubículo, tudo está dormindo, apesar do barulho.
Sem alguém, prá ninguém, sem razão, vendo as horas passarem.
Só outra noite sem grana, sem nada.
Sem respostas.
Muda-se o canal, começa outra música.
Não faz diferença.
Abaixe a cabeça e deixe o ininteligível guiar a mente cansada e entediada.
Guardo as palavras nas mãos.
Esperando por quem quer ouví-las.
quinta-feira, dezembro 06, 2001
O peso
Todos nós carregamos algum tipo de peso. Pra cima e pra baixo. Pra todo lugar.
Um fardo.
Que a gente não escolhe, não opta por. Simplesmente está lá. Por mais que se acostume a ele. Por mais que não se pense nele.
Uma hora você sente o esforço.
No fim do dia. E no silêncio.
Eu só queria saber se você se sente tão cansada quanto eu me sinto agora. Pois a cada ano parece-me mais custoso carregar o meu peso nas costas. Será ele que aumenta? Ou minha força que diminui?
Ah, nessa madrugada de quase verão carioca eu sinto um cansaço que vem me acometendo mais do que devia. Um cansaço de velho, de desistência, de entrega. Que vai contra tudo que eu tinha me prometido e resolvido.
Minhas costas doem.
E acordo, toda manhã, me sentindo como se não tivesse dormido.
Ah, você se sente assim?
Por tudo que você me disse, me parece que sim.
Então por que não se permitir ter alguém pra dividir o peso?
Pra que encarar tudo sozinha?
Se é tão mais difícil e doloroso...
Talvez eu não fosse a pessoa certa para te ajudar, ou você não fosse a me ajudar, mas pelo jeito, agora, não teremos como saber.
Essa dúvida te ronda? Ou só a mim?
Quantas vezes eu já te perguntei isso?
Pra que encarar tudo sozinha?
Eu não espero resposta.
Só espero o silêncio.
Que pesa.
Em minhas costas.
Os sonhos murcham feito maracujá velho
("Pastilhas coloridas" – Mundo Livre S/A)
domingo, dezembro 02, 2001
Insira aqui a sua foto
Eu andava cambaleante sobre o parapeito do viaduto. Via a nova catedral e aquele teatro que não me lembro o nome rodarem de um jeito engraçado.
Ria de tudo......
Eu tinha vontade de cantar “O bêbado e o equilibrista” (naquela hora eu era ambos) mas só conheço, da música, o título.
Tudo rodava em cima do viaduto. Abaixo. Na minha cabeça. Aquelas idéias e conclusões a que eu vinha chegando finalmente se encaixavam.
Não lembro como, mas depois eu estava na Lapa, botando com dificuldade o pau pra fora e mijando num muro de uma rua escura qualquer.
Eu sabia já aquela altura.
Que eu não presto.
Você me dizia que eu era um cara tão legal. Que eu era doce.
E eu dizia que você era especial pra mim.
Mas não era. Nunca foi (mas eu não sabia).
Eu queria que você estivesse ali na Lapa pra eu te dizer a verdade.
Eu nunca gostei de você. Na verdade eu não gosto de ninguém em especial.
Eu gosto, eu amo, eu quero uma mulher, mas não sei qual. É como se fosse um desenho de um corpo feminino com um espaço para se colar uma foto no local do rosto. Saca?
Eu amo uma mulher sem rosto e sem nome. Os mesmos sonhos, planos e desejos que eu tinha guardado pra você eu guardo pra elas. Como aquelas duas lá na Loud! ontem.
E outras, antes delas, que eu nunca tinha me tocado.
Em questão de horas eu tive umas 4 “futura-mulher-da-minha-vida”.
Prazer, esse sou eu.
Eu deveria me sentir mal por considerar e descartar mulheres na minha mente a cada minuto? Deveria me sentir mal por pensar nelas como coisas? Julgando seus prós e contras? Sendo frio na minha cabeça?
Eu não me sinto mal não. To cagando pra isso.
Por que é assim? Por que eu não consigo evitar?
Eu sou só mais um filho da puta interesseiro.
Eu deixo meu pau pensar por mim 80% do tempo.
Igual aos outros.
Não se engane comigo.
Eu não sou nada especial. Eu só quero ter a companhia de uma mulher que eu goste.
Poderia ser você. Ou outra. Como eu disse, é só trocar a fotinho do rosto. Todo resto é igual. Rigorosamente.
Me sinto doente hoje. Mas é a ressaca.
E eu descobri que eu gosto fácil.
E eu descobri que há muitas para serem gostadas.
Nada especial...nada.
Eu sou volúvel assim.
Saio te substituindo a todo instante. Como substituo as outras.
Deve ser carência mesmo, ou solidão.
Ou é apenas o fato de eu ser homem.
Então é isso.
Eu estou cagando pra você. Mas se não der certo com as outras, eu volto a te amar.
Eu acho que não gosto de ninguém.
Só de mim mesmo.
E nem é muito, não.